A Petrobras e a decisão do presidente Jair Bolsonaro de mudar o comando da estatal, em virtude da alta constante dos preços dos combustíveis, sobretudo do diesel, provocaram alvoroço na vida política e econômica do país, no final do mês de fevereiro.
Para o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, que foi diretor do Banco Central, presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações do governo Fernando Henrique Cardoso, o fato mostra que o “mercado financeiro tem o hábito de não estudar a nossa história. Há uma certa tendência no mercado de abstrair de suas análises a história do país”, disse ele em entrevista ao “Pensando o Brasil com Adalberto Piotto”, pela TV CIEE.
A entrevista aconteceu exatamente na tarde da quarta-feira, 24 de fevereiro, dois dias depois da abertura dos mercados, na segunda-feira, 22, em que os papeis da Petrobras e de outras estatais caíram e puxaram a Bolsa de Valores de São Paulo, a B3 para baixo, em decorrência da interpretação de intervencionismo do governo nas empresas e de um suposto abandono da agenda liberal na economia por parte do governo Bolsonaro.
Mendonça de Barros pondera o excesso na interpretação do caso pelo mercado financeiro ao dizer que a própria Petrobras, estratégica ao país e um monopólio na prática no setor de refino de petróleo, tem em seu próprio estatuto uma cláusula que teria evitados o exagero dos agentes de mercado e da imprensa especializada. A cláusula em questão, feita pela gestão de Pedro Parente, no governo Michel Temer, já na fase que recuperou a Petrobras dos escândalos e da tragédia administrativa das gestões anteriores, permite à empresa tomar atitudes, como, por exemplo, não repassar todos os seus custos imediatos aos preços dos combustíveis, em detrimento do acionista privado e em favor do governo e da sociedade. Até porque há a previsão de perdas eventuais serem compensadas pelo Tesouro Nacional, no futuro.
Na conversa de pouco mais de 36 minutos, Mendonça de Barros ainda critica o atual presidente da Petrobras, Castello Branco, que não teria usado este precedente legal para evitar a crise por uma crença no radicalismo liberal e prevê um fortalecimento da empresa na Bolsa. Sobre a situação fiscal do país, embora seja grave, apontada como um nó para a recuperação econômica, para ele, não é razão para tirar o sono porque o endividamento do ano passado durante a pandemia foi decisivo para a retomada que se vê em vários setores, o que já tirou o país da recessão mais grave.
Luiz Carlos Mendonça de Barros é atualmente presidente do Conselho da Foton Caminhões no Brasil, do grupo BAIC, um dos mais importantes conglomerados industriais da China.