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A medicina brasileira não para: entrevista com Silvano Raia, médico

Se a década dos anos 80, do século passado, é questionada em termos econômicos, como a década perdida, não se pode dizer o mesmo sobre a medicina brasileira, que alcançou feitos notáveis, com investimento em pesquisa e com seu serviço público de saúde, o qual, anos mais tarde, se tornaria o SUS.

Em 1985, por exemplo, o cirurgião e professor da Faculdade de Medicina da USP, Silvano Raia, fez o primeiro transplante de fígado no Hospital das Clínicas de São Paulo, sendo pioneiro da técnica no Brasil e na América Latina, colocando o país no seleto grupo de países com estrutura e conhecimento para realizar transplantes hepáticos.

Mas a competência da medicina brasileira não pararia por aí. Três anos depois, em 1988, o mesmo doutor Silvano Raia liderou a equipe que fez o primeiro transplante de fígado intervivos, também no HC de São Paulo, com parte do fígado de um adulto transplantado em uma criança, conseguindo dois avanços notáveis: resolver o problema da ausência de doadores infantis e superar a complexidade de se preservar a vida de doador e receptor no inovador procedimento que foi o primeiro na literatura médica mundial.

Na entrevista ao “Pensando o Brasil com Adalberto Piotto”, ele diz que o procedimento, que posteriormente evoluiu para transplantes entre adultos, permitiu que, até o ano passado, já tivessem sido feitos mais de 60 mil transplantes de fígado intervivos ao redor do planeta. “São 60 mil vidas salvas que, de outra forma, não seriam transplantadas”, diz o doutor Silvano, referindo-se a técnica que permitiu atender pacientes com necessidade de transplante de fígado em países de religiões que proíbem o uso de órgãos de pessoas falecidas.
Enfaticamente um defensor do SUS, Silvano Raia treinou mais de mil profissionais da medicina no país, que ampliaram a capacidade brasileira de transplantes de fígado para 22 estados. Aposentado da Faculdade de Medicina da USP, no ano de 2000, não parou de trabalhar.

Atualmente, aos 90 anos, ele coordena, ao lado da Profa. Mayana Zatz, uma equipe multidisciplinar de pesquisadores da USP para desenvolvimento de um projeto que visa a “Sistematização do método de xenotransplante suíno de rim no Brasil”. Dela fazem parte também os professores Jorge Kalil (imunologia), Elias David Neto (nefrologia) e Maria Rita (imunologia).

O xenotransplante é a esperança da medicina para zerar as listas de espera do transplante de órgãos em humanos provenientes de suínos, criados exclusivamente para essa finalidade.

A ciência não para. Nem o doutor Silvano Raia.

#PensandooBrasil