Rios e praias poluídos não mobilizam as pessoas na mesma proporção do que qualquer alteração na Floresta Amazônica. É justo e necessário se preocupar com a Amazônia, mas e com o meio ambiente em que se vive?
O fato de a preservação ambiental de rios e mares próximos de grandes centros urbanos não ter a mesma atenção da população, diminui a pressão sobre gestores públicos locais. A consequência direta são mananciais de captação de água e praias de lazer poluídos pelo saneamento básico insuficiente. Segundo o Instituto Trata Brasil, quase 51% do esgoto gerado no Brasil não é tratado, o que deteriora o ambiente urbano com consequente perda de qualidade de vida e renda das pessoas, além de gastos públicos maiores com saúde.
“A Amazônia é uma grife e o saneamento básico é um tabu”, diz o biólogo e doutor em ecologia Mario Moscatelli, em entrevista ao “Pensando o Brasil com Adalberto Piotto”, pela TV CIEE.
À frente do projeto Olho no Verde, que monitora uma área de 10 mil Km² da Mata Atlântica e especialista em recuperação de áreas costeiras, ele diz que a mentalidade exploratória irresponsável da cultura brasileira gerou um modelo suicida de “sucateamento dos nossos recursos hídricos”. E acrescenta: “As línguas negras de esgoto sem tratamento correm pela areia até as praias. No Rio de Janeiro, onde atuo, eu vejo as pessoas na Praia da Barra se banhando em coco e cianobactérias que podem gerar até câncer de fígado”.
Na entrevista de pouco mais de 30 minutos, Mario Moscatelli faz denúncias graves ao poder público que tem protelado o saneamento básico, à falta de consciência das pessoas diante de uma prioridade clara, reclama da insensatez da justiça e da opinião pública com projetos de exploração sustentável do meio ambiente, o que acaba provocando abandono e degradação, e termina com uma comparação sobre o custo do saneamento: “Pra recuperar a bacia hidrográfica do rio Guandú, na região metropolitana do Rio, custa R$ 1,4 bilhão. Em 2014, gastaram só no Maracanã para a Copa do Mundo, R$ 1,6 bilhão”.