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O voto facultativo avança no Brasil: entrevista com Antonio Lavareda, sociólogo e cientista político

7 de dezembro de 2020

O sociólogo e cientista político Antonio Lavareda, um dos mais sofisticados analistas de eleições e comportamento do eleitor no Brasil, faz uma leitura que destoa da análise mais comum – até simplista, por vezes – de que o elevado número de abstenções, os votos brancos e os nulos sejam apenas um desencanto com a política por parte do eleitorado.

Tome, por exemplo, que no segundo turno em São Paulo, a soma de abstenções, brancos e nulos chegou a quase 45%. No Rio de Janeiro, mais da metade: 54,35% de eleitores simplesmente disseram não a escolher um dos dois candidatos finalistas.

Em entrevista ao “Pensando o Brasil com Adalberto Piotto”, pela TV CIEE, Lavareda abre um novo entendimento:

“O que houve no Brasil, nestes dois turnos das eleições de 2020, foi uma manifestação muito clara de que, crescentemente, o eleitor médio, em maior ou menor intensidade dependendo da cidade, adotou ‘avant la lettre’, ou seja, antes da lei, o voto facultativo. E isso eu vejo como algo extremamente positivo, ao contrário de muitos analistas. O voto é um direito. Não pode ser colocado como uma obrigação. O que facilita a vida dos políticos.”

E ele continua:

“No mundo, 85% dos países utilizam o voto facultativo. O Brasil já está passando da hora de rumar nesta mesma direção. O ‘não-voto’ tem um significado tão respeitável quanto o voto. O cidadão que é compelido a comparecer numa seção eleitoral para votar branco e nulo é, na verdade, uma abstenção”.

Antonio Lavareda ainda fala da importância declinante dos partidos no mundo, como representação política formal dos eleitores. No Brasil, os partidos estão ainda mais enfraquecidos, algo crítico para a democracia representativa que continua negligenciado pela mídia, pelos formadores de opinião e pelas elites do país. E toma como exemplo o resultado das recentes eleições municipais:

“Quais os partidos que mais cresceram nas últimas eleições? DEM, PSB, PP. Pergunta no mesmo questionário: qual o partido de sua preferência? Nenhum destes partidos tem sequer 5% das preferências do eleitor brasileiro. Os partidos não existem na sociedade. Os partidos são fortes não pelo apoio da sociedade e sim pelo regimento do Congresso com indicação de líderes, membros de comissões, etc”.

O caso brasileiro com 28 partidos é flagrado pelo óbvio: “Este país tem 28 correntes de opinião? Não!”.