Inicio do conteúdo site.

Ciência não é política: entrevista com Paulo Saldiva, patologista e pesquisador

10 de maio de 2021

A mesma ciência que foi pega de surpresa por um vírus que ainda precisa ser compreendido e, ainda na fase inicial, errou prognósticos acerca da doença é a mesma que desenvolveu, em tempo recorde, vacinas com capacidade de imunizar o mundo inteiro, paralisado diante da Covid-19.

O misto de apreensão diante do novo Coronavírus com sua rápida propagação pandêmica e a resposta da ciência com imunizantes de considerável e alta eficiência são destaques da entrevista com o patologista Paulo Saldiva, pesquisador e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, no “Pensando o Brasil com Adalberto Piotto”, pela TV CIEE.

Na entrevista, o doutor Saldiva pontua que a complexidade do Sars-CoV-2, que surpreendentemente varia entre o letal e o assintomático, se estende pela complexidade social do mundo em que vivemos. Se a ciência e a indústria farmacêutica foram eficientes em pesquisar e desenvolver vacinas, a capacidade de produção rápida e de distribuição enfrentam problemas que vão desde uma mera questão logística a questões sociais ainda mais complexas, de sermos capazes de prover vacinas a países pobres em tempo hábil de controlar a doença antes do aparecimento de novas variantes.

Paulo Saldiva ainda pondera os erros da Organização Mundial da Saúde e a ausência de mea culpa por parte da própria OMS, de cientistas e especialistas na interpretação do novo vírus, cometidos no começo da pandemia, além da politização desmesurada da ciência, o que gerou o fenômeno da infodemia, com os danos das fake news. “A ciência pode muita coisa, mas tem coisas que demandam mais tempo. No entanto, isso não impediu que políticos usassem o nome da ciência para impor à população certezas que precisam de tempo para serem estabelecidas cientificamente”.

Por fim, ele aponta o déficit de profissionais treinados em UTI como um dos principais problemas no tratamento e no número de vítimas: “Houve doação de respiradores por empresas e você não tinha pessoal capacitado em número suficiente para atender um paciente num leito de terapia intensiva”, o que revela um problema estrutural de educação formal e profissional, endêmico no Brasil, que foi escancarado no setor de saúde e expôs a necessidade urgente de governos e sociedade darem a devida atenção.