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Desenho de um caderno aberto
Imagem ilustrativa / Divulgação

Tudo o que precisamos é amor

10 de junho de 2021
Jovens vivenciam experiências acolhedoras nos Espaços de Cidadania do CIEE

Por meio do Projeto Autobiografia – desenvolvido nos Espaços de Cidadania do CIEE – jovens de 15 a 17 anos, do Distrito Federal, São Paulo, Manaus e Salvador tiveram a oportunidade de pensar a respeito de si, de seus contextos sociais, culturais e dialogar com pessoas próximas para aprofundar partes esquecidas ou ainda nem sabidas de suas vidas.

Com surpresa, estranhamento e um pouco de resistência o Projeto foi recebido. Aos poucos, jovens foram se interessando pela possibilidade de relembrar histórias e lidar com as emoções que surgem junto às memórias. Em um diálogo provocativo, respeitoso e acolhedor, compartilharam suas lembranças, histórias sobre origem dos nomes, relações com pais, mães, colegas, professores, territórios, afetos, derrotas e conquistas. Evocaram relatos de violências físicas e psicológicas, sofridas dentro e fora de casa.  

O processo da Autobiografia estimulou a/o adolescente ao diálogo com familiares e pessoas próximas para um descobrimento de sua própria história, e à percepção de como um mesmo fato é vivido e narrado de forma diferente por cada personagem que o presenciou.

Passar pela reflexão do que é ser adolescente também fez parte do Projeto. O compartilhamento dos sentimentos e dificuldades dessa etapa da vida, maior distanciamento da família, surgimento de  conflitos, críticas, descobertas sexuais e a intensificação de algumas discriminações. Importante também o relato sobre a escola e sua dificuldade de compreensão e acolhimento, as cobranças, pressões e disputas. 

Nas narrativas ficou evidente que a questão racial marca as/os adolescentes desde cedo, que se soma ao  sofrimento mental, a sensação de impotência e incompetência, que muitas vezes levam às automutilações.

Entre depoimentos e choros as/os jovens foram se acolhendo e compartilhando estratégias para diminuir angústias e passar por esses momentos de formas menos perigosas, como: conversar com alguém de confiança, escrever diário, ouvir músicas, procurar um especialista, se necessário.

Muitos revelaram sentir vergonha e medo de falar de seus sentimentos; receio de  julgamentos, de preocupar pessoas queridas e serem vistos como fracos. Relatos de traições por pessoas de confiança foram muitos, acompanhados da percepção de que foram educadas/os para esconder sentimentos e engolir choros, para evitar o desprezo dos pares.

Ser médica, psicologia, arquiteto, advogado, atleta, músico, policial, escritor, empresário, independente, viajar, ter uma boa casa, dinheiro, casar, ter uma família, fazer a mãe feliz, curar a irmã do câncer e por fim a Pandemia do Covid 19 foram alguns dos sonhos das/os jovens dos Espaços de Cidadania. Outros revelaram não ter desejos, em geral aqueles que vivem situações mais graves de fome, violência e abandono.  

Os abandonos pelo Estado também foram observados nas narrativas, que apontaram ausência de saneamento básico, coleta de lixo e iluminação adequada nos locais onde moram. Espaços de esporte e lazer são sonhos, à diferença dos bairros mais nobres, de difícil acesso, que contam com toda infraestrutura, parques, quadras de futebol, pistas de skate, entre outros.

A elaboração de uma autobiografia foi uma experiência potente e profunda. Alguns jovens perceberam a diferença de perspectiva ao contarem sua própria história, como disse K de 17 anos: Nunca pensei que jovens como nós pudéssemos ser tão criativos e trazer tanta informação. Fiquei ansiosa, nervosa, mas valeu a pena, foi muito emocionante saber que naquele momento todos estavam prestando atenção na minha história. Me senti importante, cuidada e amada”.

Enfim, foi uma significativa vivência para o autoconhecimento, ressignificação de algumas passagens das histórias de vida e fortalecimento das relações protetivas. Com a compreensão de sua própria história e o relato de seus problemas, as/os adolescentes ganham um instrumento de dignidade e um acréscimo e confiança importante para os desafios futuros, pessoais, familiares e profissionais.

Luana Bottini, gerente de Projetos Sociais do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE)


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